Vento e Sol

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Durante muito tempo, as usinas hidrelétricas foram as grandes geradoras de energia no Brasil. Nos anos 1980 e 1990, elas representavam mais de 80% da capacidade, e isso era importante, na medida em que, ao contrário de outros países, a matriz nacional era baseada em fonte renovável, sem dependência de combustíveis fósseis, como o carvão ou derivados de petróleo, caso das usinas termelétricas.

Há, porém, limites naturais à expansão do aproveitamento da energia hídrica. A construção de usinas exige investimentos gigantescos e traz como consequência inevitáveis problemas ambientais, com a inundação de grandes áreas, deslocamento forçado de populações, notadamente indígenas, efeitos sobre a fauna e o ecossistema de extensas regiões.

É positivo, portanto, notar que estão em curso mudanças no atual modelo. A aceleração e expansão das usinas eólicas, movidas pelos ventos, e da geração solar fotovoltaica estão provocando mudanças importantes no sistema elétrico, e esse movimento deve se intensificar ao longo dos próximos anos. Projeções do governo, no mais recente Plano Decenal de Energia, com diretrizes até 2027, apontam que as hidrelétricas devem ver sua fatia na matriz nacional reduzida para 51%, contra 64% em 2018. Em contrapartida, fontes alternativas, principalmente eólicas e solares, devem saltar de 22%, atualmente, para 28%.

Tanto a energia eólica como a solar têm problemas de intermitência, decorrente de oferta irregular de ventos e presença do sol. Isso, porém, pode ser minimizado e controlado: o Operador Nacional do Sistema (ONS) desenvolveu aplicativo que usa dados de previsão de ventos fornecidos por instituições especializadas para projetar a geração dos parques eólicos, e sistema semelhante está sendo criado para permitir previsões sobre a produção de energia solar, que começa a ganhar espaço no País.

Não se trata, é evidente, do abandono da energia hídrica. A construção de usinas hidrelétricas foi importante, e sua existência assegurou a geração de energia no País, e assim devem continuar funcionando, formando, ao lado das novas fontes, uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta. O Brasil tem, portanto, bom conjunto de opções e, como mecanismo de transição, pode ainda utilizar o gás natural produzido no pré-sal (que é menos poluente que outros combustíveis fósseis) para usinas termelétricas.

A redução do papel das hidrelétricas traz também outra vantagem: não haverá necessidade de que seus lagos reservem água durante a época de chuvas para depois serem esvaziados no período seco, permitindo dessa maneira a operação com estabilidade, proporcionada pela energia solar, eólica e térmicas a gás. Além disso, os consumidores serão beneficiados, eliminando-se as bandeiras tarifárias, causadas pelos custos extras quando a oferta de energia hídrica é baixa.

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